BRASÍLIA – Ao lançar ontem sua pré-candidatura à Presidência, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) fez um discurso incisivo contra os principais adversários e prometeu, se eleito, eliminar o teto de gastos públicos, revisar a reforma trabalhista e taxar grandes fortunas, além de tributar lucros e dividendos. Dirigindo-se à plateia como “minhas irmãs e meus irmãos”, Ciro também reiterou a proposta de acabar com o instrumento da reeleição no País.
Isolado e sem alianças partidárias encaminhadas até o momento, o PDT promoveu o ato político para impulsionar a campanha de Ciro, em Brasília, e dissipar rumores de que ele desistirá da disputa. A cerimônia contou com a presença do marqueteiro João Santana, que antes trabalhou em campanhas do PT.
“Quero ser o presidente da rebeldia e da esperança”, afirmou Ciro, numa referência a seu novo slogan, produzido por Santana. “Estão pensando o quê? Isso é para valer!”, disse ele, em recado para deputados do partido que até hoje o pressionam a renunciar, caso não consiga crescer nas pesquisas de intenção de voto. O PDT evocou ali a imagem de Leonel Brizola e se referiu aos 100 anos que o político gaúcho completaria hoje para apresentar seu pré-candidato como um “rebelde”.© Dida Sampaio/Estadão Evento de lançamento da pré-candidatura de Ciro Gomes contou apenas com a participação de líderes do próprio partido.
Em quase uma hora de pronunciamento, Ciro dirigiu fortes críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ex-juiz Sérgio Moro (Podemos). O ex-ministro vinculou Lula a Bolsonaro, a quem acusou de praticar genocídio na pandemia de covid-19, e propôs quebrar essa polarização. Não faltaram ataques a Moro, definido por ele como dono de um currículo equivalente a um “rosário de vergonhas”.
O foco das críticas foi a economia, tema que tem dominado o debate entre os principais pré-candidatos na disputa deste ano. “Seria exagero dizer que os presidentes, apesar de diferentes em muitas coisas, foram iguaizinhos em economia, e que o modelo econômico que copiaram uns dos outros nos trouxe a este beco sem saída?”, provocou o ex-ministro. “Seria mentira afirmar que eles, sem exceção, impuseram um tipo de governança que tem o conchavo e a corrupção como eixos? Não, não é exagero. É pura realidade”, completou.
‘Irresponsabilidades’
Mais tarde, em entrevista, Ciro afastou a possibilidade de apoiar Lula em um eventual segundo turno contra Bolsonaro. “Eu ajudei o Lula em todas as eleições. Será que existiria o Bolsonaro se não fosse a contradição econômica, social e moral do Lula? Eu não posso ficar de novo sustentando as irresponsabilidades do Lula”, disse ele, que foi ministro da Integração Nacional no governo do petista.© Dida Sampaio/Estadão Slogan da campanha de Ciro Gomes, produzido pelo marqueteiro João Santana, cita ‘rebeldia’ e ‘esperança’
Em sua quarta tentativa de chegar ao Palácio do Planalto, Ciro afirmou que, se eleito, acabará com o teto de gastos. A medida foi adotada durante o governo do ex-presidente Michel Temer, em 2016, e limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. O ex-ministro criticou a regra por excluir as despesas com o pagamento de juros da dívida pública e reduzir os investimentos.
“Prometo, portanto, acabar com essa ficção fraudulenta chamada teto de gastos e colocar em seu lugar um modelo que vai tocar o Brasil adiante sem inflação e com equilíbrio fiscal verdadeiro”, afirmou.
Ao direcionar ataques a Moro, Ciro também prometeu encaminhar uma proposta de reforma do combate à corrupção, a ser debatida a partir de março, antes do início oficial da campanha. “Não haverá espaço para estrelismos e efeitos especiais nem espetáculo para conquista de plateias ou, pior, de eleitores”, disse o pré-candidato, classificando o adversário do Podemos como um caso “de glória efêmera como juiz e agora candidato a se derreter em contradições, mentiras e despreparo”.
Vice
Disposto a atrair Marina Silva, líder da Rede Sustentabilidade, para compor a chapa como candidata a vice, Ciro afirmou que a ex-ministra tem “todos os dotes para ser uma presidente do Brasil” (mais informações nesta página). Ressalvou, no entanto, que “é cedo” para falar em vice.
O pré-candidato pregou um conjunto de reformas para aprovação no Congresso e um plebiscito, incluindo o fim da reeleição. Na economia, defendeu uma política para acabar com o déficit fiscal, ou seja, garantir que o governo arrecade mais do que gasta, sem recorrer ao tripé macroeconômico – meta de inflação, meta fiscal e câmbio flutuante.